quarta-feira, 18 de junho de 2014

Tempo livre e ócio criativo: receita para o bem estar.


Fugir do óbvio. Não se conformar com o pré-estabelecido. Ficar incomodado com a rotina. Buscar o novo. Alimentar a criatividade. O ser humano precisa inovar para evoluir em todas as áreas, sejam emocionais, sejam práticas. Para isso ele precisa de tempo livre e liberdade para exercer o ócio criativo. Só assim é possível equilibrar trabalho e produtividade com lazer e bem-estar.

A vida depende da criatividade: para conquistar um amor, assegurar a vaga de emprego, desenvolver uma máquina incrível ou descobrir a vacina para determinada doença. Não importa. Inspiração para apresentar algo novo é fundamental para a existência. É o oxigênio que move a existência.

O professor e sociólogo italiano Domenico De Masi, autor do livro Ócio criativo, alerta para a urgência de o homem fazer a redistribuição do tempo, do trabalho, da riqueza, do saber e do poder. Ele desenvolve um pensamento sobre o trabalho, o tempo livre e a evolução da sociedade e mostra toda a insatisfação diante do modelo centrado na idolatria do aspecto profissional e da competitividade. "É preciso dar valor à introspecção, ao convívio, à amizade, ao amor e às atividades lúdicas para se tornar um ser criativo."

Tanto é verdade essa necessidade que a professora Kalina Christoff, do Departamento de Psicologia da Universidade British Columbia, no Canadá, provou por meio de imagens de ressonância magnética que o cérebro está bem mais ativo durante o devaneio do que se imaginava. A pesquisa, publicada na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), comparou esse estado a um momento de raciocínio lógico. Ou seja, mesmo num ritmo menos acelerado, o cérebro está criando. Isso significa que distração e a diversão não são coisas de gente preguiçosa ou folgada. É também um caminho para ter boas ideias, manter a saúde e resolver problemas.

ECONOMIA CRIATIVA

Ema artigo publicado na revista Inteligência Empresarial, nº 37, assinado por Edna dos Santos-Duisenberg, economista, diplomata internacional aposentada da ONU e ex-chefe do Programa de Economia Criativa da United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), em Genebra, a autora discorre sobre tempo livre, lazer e economia criativa. Ela diz que a definição de lazer é controversa. 

Mas há um certo consenso de que existem três formas: lazer como tempo, lazer como atividade e lazer como estado de espírito. "Lazer como tempo é o chamado tempo livre de obrigações de trabalho e das necessidades fisiológicas. Lazer também pode ser compreendido como as atividades a que as pessoas se dedicam quando dispõem de tempo livre, sem contar as atividades vinculadas à existência, como as horas de sono ou cuidando da casa ou dos afazeres domésticos. Estas atividades podem ser variadas, desde aquelas ligadas à recreação, aos esportes, até as que são mais voltadas ao desenvolvimento humano ou intelectual, tais como ler por prazer. Considerar lazer como estado de espírito é ainda mais complexo, pois depende da percepção individual sobre conceitos diversos, tais como a liberdade, a motivação, a competência, o espírito competitivo etc. 

O importante, neste caso, é a possibilidade de escolha." Edna fala ainda sobre a economia criativa, "um conceito relativamente novo, centrado, mas não restrito às artes e às atividades culturais, e voltado para a dinâmica das indústrias criativas e seu impacto na economia global. Trata-se de um grupo de bens tangíveis e serviços intangíveis que têm como insumo principal a criatividade e o capital intelectual, e que se tornou um componente essencial de crescimento econômico, do emprego, do comércio, da inovação e da coesão social." Edna lembra que o comércio de produtos criativos atingiu em 2011, US$ 624 bilhões. "O Brasil, apesar do seu grande potencial criativo, exporta atualmente cerca de US$ 7,4 bilhões de bens e serviços criativos."

OBRA DE ARTE DO INCONSCIENTE

O psicanalista e professor de psicologia da UFMG Guilherme Massara, diz que este é um tema instigante. "A pesquisa que revela dados sobre o Mind Wandering é interessante e atesta como o devaneio se apoia num complexo arranjo de funções cerebrais. Outro dado interessante: que é uma atividade que aumenta na medida em que a mente não está sob a pressão de uma tarefa por realizar."

Conforme Guilherme Massara, para a psicanálise, o devaneio diurno ou noturno, aparentemente desprovido de sentido, às vezes absurdo, incoerente ou estranho, é um processo que traz a marca do inconsciente. "E como tal, traz em sua composição – muitas vezes de forma disfarçada – traços dos desejos, dos temores ou angústias que vivemos. O sonhar acordado não necessariamente resulta numa narrativa que seja portadora de um sentido em si mesma, mas é algo que pode ser interpretado (numa situação específica, ali, trabalhada "no divã") e que pode sim, com isso, revelar algum sentido ao sonhador."

O psicanalista lembra que o termo inglês "wandering" reporta-se à raiz etimológica de "errância" ou divagação. "A lição de Freud é que a errância não é sinônimo de esmo, de aleatório ou de indeterminado. Há caminhos, trilhas e vias traçadas sobre as experiências e memórias inconscientes de cada um de nós e, quando devaneamos, frequentemente essas vias são alimentadas e nos põem diante de algumas verdades difíceis, dolorosas ou proibidas. E são esses caminhos que nos colocam diante das inscrições fundamentais de nossa história e que se mesclam às ficções dos devaneios, cujo resultado, frequentemente, não deixa de exibir também qualidades estéticas. O sonho, e quem sabe também o devaneio, sejam no final das contas aquela pequena obra de arte com a qual nos saúda o inconsciente nosso de cada dia?", questiona.

Para o sociólogo Domenico De Masi , a escolha é a seguinte: "Posso viver o ócio prevaricando, roubando, violentando, entediando-me e explorando. Ou posso vivê-lo com vantagens para mim e para os outros, fazendo com que eu e os outros sejamos felizes, sem prejudicar ninguém. Neste caso, e só neste caso, atinjo a plenitude do conhecimento e da qualidade de vida".

Fonte: Saúde Plena.

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